A conservação do Mar da Patagônico reuniu especialistas de quatro países que deliberaram na Praia do Cassino, Brasil

A conservação do Mar da Patagônico reuniu especialistas de quatro países que deliberaram na Praia do Cassino, Brasil 1400 791 Foro para la Conservación del Mar Patagónico
Mais de 50 especialistas de cerca de trinta organizações dedicadas à conservação dos mares do Cone Sul se reuniram na Praia do Cassino, Rio Grande do Sul, Brasil, para analisar o estado atual do Mar da Patagônico e fazer um balanço que permita medir as ações realizadas como membros do Fórum para a Conservação do Mar Patagônico e Áreas de Influência.

O encontro foi estendido por quatro dias intensos de trabalho, que ocorreram entre os dias 27 e 31 de março, no âmbito da XXI Reunião Plenária do Fórum para a Conservação do Mar Patagônico e Áreas de Influência, com a participação das organizações que formam a rede – voltada para a proteção do mar e sua biodiversidade –, e outros convidados.

A organização anfitriã foi o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA), entidade privada sem fins lucrativos de utilidade pública municipal que atua ao longo da costa brasileira – principalmente na região litorânea do Rio Grande do Sul – por meio de ações coordenadas de educação, monitoramento, pesquisa e conservação.

Os objetivos centrais do encontro, que ocorreu predominantemente presencialmente, embora tenha tido algumas participações de forma virtual, foram apoiar a agenda de conservação marinha dos membros do Fórum no Brasil, debater e articular aspectos de governança, comunicação e linhas de ação com abordagem regional (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai) e projeção temporal, e divulgar o trabalho do Fórum entre os atores relevantes.

A agenda de trabalho centrou-se em diferentes ameaças que põem em perigo a vida no mar: lixo e poluição plástica (uma iniciativa que o Fórum tem vindo a desenvolver no âmbito do projeto “Mar Patagônico Limpo”), exploração sísmica e perfuração do fundo do mar para extrair hidrocarbonetos e salmonicultura, entre outros.

Estratégias para enfrentar esses e outros perigos também foram abordadas, como a capacitação de gestores de áreas marinhas protegidas – AMPs (por meio da Escola de Gestão de AMPs do Fórum), os desafios e oportunidades de acordos internacionais, iniciativas de participação social (especialmente voltadas para a incorporação de jovens), educação, implementação de uma “Agenda de Vida Estratégica” e disseminação de informações fundamentais para a tomada de decisão.

Durante o encontro, participaram organizações locais do Brasil interessadas em integrar o conhecer o Fórum e, virtualmente, ONGs da Argentina.

Criação de áreas marinhas protegidas

Sendo a proteção dos ecossistemas marinhos um tema central para o Fórum, durante a reunião foram abordadas iniciativas para a criação de novas AMPs na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.

Sérgio Estima, coordenador do projeto do NEMA, disse que esta organização está trabalhando na criação do Parque Nacional do Albardão, da Unidade de Conservação Costeira e Marinha Dunas e Parcel de Cidreira e da Elevação do Rio Grande, como área de estudo.

Valeria Falabella, da WCS Argentina, referiu-se à criação da AMP bentônica Agujero Azul, a cerca de 400 km do Golfo de San Jorge. Este AMP, que já conta com a aprovação da Câmara dos Deputados da Argentina, visa proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis e cânions submarinos de alta biodiversidade e relevância ecológica na área do talude.

Álvaro Soutullo, da Vida Silvestre Uruguai, disse que cerca de sete sítios de alto valor de conservação foram identificados naquele país e que o desafio hoje é estabelecer acordos interinstitucionais e dar lugar a diferentes instrumentos de gestão ambiental. Ele comentou que a proposta de criação de duas AMPs já foi apresentada, mas o trabalho ainda é incipiente.

Por sua vez, Mauricio Palacios, da WCS Chile, destacou o trabalho dos membros do Fórum na promoção da implementação das ferramentas de gestão existentes da AMP, através do apoio prestado ao Serviço Nacional de Pescas e ao Ministério do Meio Ambiente. Ele também destacou a preparação de insumos técnicos em relação à representatividade ecossistêmica e ameaças das AMPs na Patagônia, no âmbito do projeto Oceans5.

Intercâmbio regional

Quase 20 anos após a criação do Fórum, o encontro gerou instâncias de avaliação interna, planejando para 2023 a revisão de aspectos de governança e estrutura, comunicação interna e externa, sustentabilidade financeira, procedimentos de trabalho e constituição de grupos, cenários futuros, novas lideranças, efetividade e impacto das estratégias.
O NEMA organizou atividades que possibilitaram o intercâmbio de membros do Fórum com membros de instituições emblemáticas do Rio Grande, como o Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de Carvalho Rios” (fundado em 1953) e o Instituto de Oceanografia (1971) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

No Museu, os integrantes do Fórum tiveram a oportunidade de conhecer e conversar com seu diretor, Lauro Barcellos, que não só falou sobre a origem, história e função do complexo, mas também deu uma palestra profundamente inspiradora sobre a tarefa de conservação.
Além disso, puderam visitar e conhecer as atividades desenvolvidas no Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM-FURG), juntamente com sua coordenadora, Paula Canabarro.

Já no Instituto de Oceanografia da FURG, o presidente do Fórum, Alejandro Vila, fez uma apresentação sobre o trabalho desenvolvido pelo Fórum, como rede de organizações, com o fim de compartilhar ações e objetivos com alunos e professores daquela casa de estudos.

Logo após, os membros do Fórum e comunidade acadêmica participaram de uma apresentação, seguida de diálogo, com Claudio Campagna, primeiro presidente e fundador do Fórum, que falou de sua pesquisa atual sobre uma nova abordagem para a linguagem da conservação, baseada na priorização de aspectos éticos, sobre os cientistas, como base para sustentar as práticas de conservação.

O Plenário também foi palco da apresentação do livro “Un Solo Mar”, feito com o apoio da Oceans5. Seus autores são José Truda Palazzo Jr., Kleber Grübel da Silva, Renato Carvalho, Andrés Milessi e May Rovahz, com prólogo de Lauro Barcellos e epílogo de Claudio Campagna. A apresentação contou com a presença das autoridades locais e representantes acadêmicos, possibilitando o intercâmbio com os membros do Fórum e suas organizações.

A trajetória de Diego Taboada, vice-presidente do Fórum e presidente e co-fundador do Whale Conservation Institute (ICB), também foi reconhecida durante o evento, por meio da entrega do prêmio Lobo Orensaz. Após votação quase unânime dos membros do Fórum, Taboada recebeu o prêmio em reconhecimento ao seu trabalho e compromisso com a conservação marinha e na consolidação do Fórum como organização.

O prêmio homenageia o destacado biólogo marinho –promotor da primeira AMP da Argentina, o Golfo San Jorge, na Península Valdés–, considerado um exemplo de generosidade e abnegação.

Da mesma forma, no final dessa reunião, foram visitadas as instalações do NEMA, onde foi inaugurado uma ” Exposição Sensorial Oceânica com Cúpula Imersiva”, da Organização Uruguaia de Conservação de Cetáceos (OCC).

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