O encontro foi estendido por quatro dias intensos de trabalho, que ocorreram entre os dias 27 e 31 de março, no âmbito da XXI Reunião Plenária do Fórum para a Conservação do Mar Patagônico e Áreas de Influência, com a participação das organizações que formam a rede – voltada para a proteção do mar e sua biodiversidade –, e outros convidados.
A organização anfitriã foi o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA), entidade privada sem fins lucrativos de utilidade pública municipal que atua ao longo da costa brasileira – principalmente na região litorânea do Rio Grande do Sul – por meio de ações coordenadas de educação, monitoramento, pesquisa e conservação.
Os objetivos centrais do encontro, que ocorreu predominantemente presencialmente, embora tenha tido algumas participações de forma virtual, foram apoiar a agenda de conservação marinha dos membros do Fórum no Brasil, debater e articular aspectos de governança, comunicação e linhas de ação com abordagem regional (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai) e projeção temporal, e divulgar o trabalho do Fórum entre os atores relevantes.
A agenda de trabalho centrou-se em diferentes ameaças que põem em perigo a vida no mar: lixo e poluição plástica (uma iniciativa que o Fórum tem vindo a desenvolver no âmbito do projeto “Mar Patagônico Limpo”), exploração sísmica e perfuração do fundo do mar para extrair hidrocarbonetos e salmonicultura, entre outros.
Estratégias para enfrentar esses e outros perigos também foram abordadas, como a capacitação de gestores de áreas marinhas protegidas – AMPs (por meio da Escola de Gestão de AMPs do Fórum), os desafios e oportunidades de acordos internacionais, iniciativas de participação social (especialmente voltadas para a incorporação de jovens), educação, implementação de uma “Agenda de Vida Estratégica” e disseminação de informações fundamentais para a tomada de decisão.
Durante o encontro, participaram organizações locais do Brasil interessadas em integrar o conhecer o Fórum e, virtualmente, ONGs da Argentina.
Criação de áreas marinhas protegidas
Sendo a proteção dos ecossistemas marinhos um tema central para o Fórum, durante a reunião foram abordadas iniciativas para a criação de novas AMPs na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.
Sérgio Estima, coordenador do projeto do NEMA, disse que esta organização está trabalhando na criação do Parque Nacional do Albardão, da Unidade de Conservação Costeira e Marinha Dunas e Parcel de Cidreira e da Elevação do Rio Grande, como área de estudo.
Valeria Falabella, da WCS Argentina, referiu-se à criação da AMP bentônica Agujero Azul, a cerca de 400 km do Golfo de San Jorge. Este AMP, que já conta com a aprovação da Câmara dos Deputados da Argentina, visa proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis e cânions submarinos de alta biodiversidade e relevância ecológica na área do talude.
Álvaro Soutullo, da Vida Silvestre Uruguai, disse que cerca de sete sítios de alto valor de conservação foram identificados naquele país e que o desafio hoje é estabelecer acordos interinstitucionais e dar lugar a diferentes instrumentos de gestão ambiental. Ele comentou que a proposta de criação de duas AMPs já foi apresentada, mas o trabalho ainda é incipiente.
Por sua vez, Mauricio Palacios, da WCS Chile, destacou o trabalho dos membros do Fórum na promoção da implementação das ferramentas de gestão existentes da AMP, através do apoio prestado ao Serviço Nacional de Pescas e ao Ministério do Meio Ambiente. Ele também destacou a preparação de insumos técnicos em relação à representatividade ecossistêmica e ameaças das AMPs na Patagônia, no âmbito do projeto Oceans5.
Intercâmbio regional
Quase 20 anos após a criação do Fórum, o encontro gerou instâncias de avaliação interna, planejando para 2023 a revisão de aspectos de governança e estrutura, comunicação interna e externa, sustentabilidade financeira, procedimentos de trabalho e constituição de grupos, cenários futuros, novas lideranças, efetividade e impacto das estratégias.
O NEMA organizou atividades que possibilitaram o intercâmbio de membros do Fórum com membros de instituições emblemáticas do Rio Grande, como o Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de Carvalho Rios” (fundado em 1953) e o Instituto de Oceanografia (1971) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
No Museu, os integrantes do Fórum tiveram a oportunidade de conhecer e conversar com seu diretor, Lauro Barcellos, que não só falou sobre a origem, história e função do complexo, mas também deu uma palestra profundamente inspiradora sobre a tarefa de conservação.
Além disso, puderam visitar e conhecer as atividades desenvolvidas no Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM-FURG), juntamente com sua coordenadora, Paula Canabarro.
Já no Instituto de Oceanografia da FURG, o presidente do Fórum, Alejandro Vila, fez uma apresentação sobre o trabalho desenvolvido pelo Fórum, como rede de organizações, com o fim de compartilhar ações e objetivos com alunos e professores daquela casa de estudos.
Logo após, os membros do Fórum e comunidade acadêmica participaram de uma apresentação, seguida de diálogo, com Claudio Campagna, primeiro presidente e fundador do Fórum, que falou de sua pesquisa atual sobre uma nova abordagem para a linguagem da conservação, baseada na priorização de aspectos éticos, sobre os cientistas, como base para sustentar as práticas de conservação.
O Plenário também foi palco da apresentação do livro “Un Solo Mar”, feito com o apoio da Oceans5. Seus autores são José Truda Palazzo Jr., Kleber Grübel da Silva, Renato Carvalho, Andrés Milessi e May Rovahz, com prólogo de Lauro Barcellos e epílogo de Claudio Campagna. A apresentação contou com a presença das autoridades locais e representantes acadêmicos, possibilitando o intercâmbio com os membros do Fórum e suas organizações.
A trajetória de Diego Taboada, vice-presidente do Fórum e presidente e co-fundador do Whale Conservation Institute (ICB), também foi reconhecida durante o evento, por meio da entrega do prêmio Lobo Orensaz. Após votação quase unânime dos membros do Fórum, Taboada recebeu o prêmio em reconhecimento ao seu trabalho e compromisso com a conservação marinha e na consolidação do Fórum como organização.
O prêmio homenageia o destacado biólogo marinho –promotor da primeira AMP da Argentina, o Golfo San Jorge, na Península Valdés–, considerado um exemplo de generosidade e abnegação.
Da mesma forma, no final dessa reunião, foram visitadas as instalações do NEMA, onde foi inaugurado uma ” Exposição Sensorial Oceânica com Cúpula Imersiva”, da Organização Uruguaia de Conservação de Cetáceos (OCC).