de derramamento. Esses modelos confirmam os resultados já disponíveis e ampliam o conhecimento das áreas de risco no Golfo San Matías (GSM) e na Área Natural Protegida Península Valdés.
O GNOME é um conjunto de ferramentas de modelagem que permite prever o destino e o transporte de poluentes (como o petróleo) derramados na água. Essas ferramentas são usadas para o suporte de resposta a derramamentos da NOAA. Elas também são ferramentas disponíveis publicamente para o planejamento de resposta a derramamentos de óleo em geral.
Os dados observados sobre correntes, ventos, marés, temperatura e salinidade foram incorporados à análise. As águas do Golfo San Matías têm características oceanográficas específicas, associadas a marés altas e ventos fortes. Isso determina que os poluentes se movam amplamente pela superfície do golfo. A ferramenta foi calibrada e validada com base nos resultados do modelo apresentado e aprovado no estudo de impacto ambiental da terminal.
No estudo apresentado aqui, foram simulados cenários de derramamento considerando dois pontos e magnitudes de derrames e duas estações do ano:
– Monobóia e ponto médio do oleoduto submarino, a 10 m de profundidade.
– Volume derramado 440 e 3.000 barris (70 e 477 metros cúbicos, respectivamente).
Conclusões:
Em todos os cenários, independentemente da estação, do ponto e do volume do derramamento, o óleo atinge a costa com um atraso máximo de 6 a 8 dias. O derramamento atinge, em todos os casos, ambientes de extrema sensibilidade ecológica, classificados como áreas protegidas.
A dispersão da mancha é maior no verão do que no inverno, e a linha costeira é afetada em vários locais.
Nos cenários de verão, o petróleo atinge, em menos de 12 horas, o Parque Nacional e Reserva Natural Islote Lobos. Em seguida, ele se desloca em direção a Puerto Lobos e à Península Valdés, afetando o Golfo San José. No inverno, a Reserva “Caleta de los Loros” é a primeira a ser afetada.
Os diferentes cenários de derramamento modelados preveem a contaminação nas seguintes áreas protegidas:
1. Parque Nacional “Islote Lobos”
2. Área Natural Protegida “Puerto Lobos”
3. Parque Marinho Provincial “Golfo San José”
4. Parque Natural da Defesa “Punta Buenos Aires”
5. Reserva Natural Turística de Objetivo Integral “Península Valdés”
6. Reserva da Biosfera “Península Valdés”
7. Reserva Natural Turística “Caleta Valdés”
8. Área Natural Protegida “Punta Bermeja”
9. Reserva Natural Protegida “Caleta de los Loros”
10. Área Natural Protegida “Bahía San Antonio”
Riscos de derramamento:
– Um derramamento de petróleo terá um efeito catastrófico sobre os ambientes sensíveis do Golfo San Matías. Esse ecossistema nunca mais será o mesmo em termos ecológicos.
– A experiência global tem demonstrado que projetos como os planejados para o Golfo San Matias apresentam altos riscos de derramamento, com danos irreversíveis.
O Golfo San Matías não é um lugar como outro qualquer. Suas costas abrigam as colônias mais importantes de Pinguins de Magalhães e parte do único grupo de reprodução de Elefantes Marinhos do Sul em toda a Patagônia argentina. Em suas águas, a Baleia Franca Austral se reproduz e se alimenta. No mesmo local, as orcas perseguem os leões-marinhos, que estão se recuperando da matança do século passado.
O Dr. Claudio Campagna, cientista com mais de quarenta anos de experiência na pesquisa de espécies do Golfo, diz: “Como se traduz, em última instância, um derramamento de petróleo? O pinguim contaminado pelo petróleo morre de hipotermia e não retorna ao ninho. O que resta do casal não é suficiente para alimentar os filhotes. E os filhotes morrem. Assim se espalha o petróleo e a tragédia…“
Simulações que coincidem
Um estudo contratado no contexto da aprovação do projeto já alertava que os derramamentos poderiam ter um impacto ambiental significativo. Embora o exercício apresentado pela empresa não busque modelar cenários de maior intensidade ou duração, nem indique os critérios para a escolha desses cenários, ele apresenta coincidências com o trabalho aqui abordado. Esses resultados não foram levados em consideração, embora previam a possibilidade de que o derramamento de petróleo chegasse à costa.
O derramamento de óleo não só prejudica a subsistência das famílias na costa norte da Patagônia, mas também afeta o turismo e a beleza da paisagem. Ele também se infiltra na cadeia alimentar, chegando às nossas próprias mesas e corpos. Quando o petróleo se deposita, o que surge é uma paisagem com milhares de aves e mamíferos marinhos
contaminados, com sério risco de vida, redes vazias e comunidades em situação de emergência.
“Apostar que as medidas de contenção e mitigação podem aliviar o desastre socioecológico que um derramamento causará em San Matías-Península Valdés é simplesmente não entender a dinâmica do mar”, disse Hernan Perez Orsi, ativista e pesquisador do oceano.
Valeria Falabella, Diretora de Conservação Marinha Costeira da WCS Argentina, conclui: “O Golfo de San Matías é um dos ecossistemas marinho-costeiros mais notáveis da Argentina. As iniciativas de hidrocarbonetos no golfo são inaceitáveis, implicam riscos e impactos profundos… e nós deixamos isso acontecer, transformando-o em uma área de sacrifício. Não somos um país sério se não planejamos nosso crescimento de forma inteligente e responsável”.
Este relatório, longe de ser um alarme, quer chamar à reflexão e, com isso, à ação.
